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sábado, 29 de dezembro de 2018

QUALIDADE E QUANTIDADE - De Monteiro Lobato

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            Meteu-se um ono a falar numa roda de sábios e tais asneiras disse que foi corrido a pontapés.
            - Que? - exclamou ele. Enxotam-me daqui? Negam-me talento? Pois hei de provar que sou um grande figurão e vocês não passam duns idiotas. 
            Enterrou o chapéu na cabeça e dirigiu-se à praça pública onde se apinhava copiosa multidão de beócios. Lá trepou em cima duma pipa e pôs-se a declamar.  Disse asneiras como nunca, tolices de duas arrobas, besteiras de dar com um pau. Mas como gesticulava e berrava furiosamente, o povo em delírio o aplaudiu com palmas e vivas - e acabou carregando-o em triunfo. 
             - Viram? - resmungou ele ao passar ao pé dos sábios. Reconheceram a minha força? Responderam-me agora: que vale a opinião de vocês  diante desta vitória popular? 
             Um dos sábios retrucou serenamente: 
A opinião da qualidade despreza a opinião da quantidade. 



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- Nada mais certo, meus filhos - disse Dona Benta. Logo que os homens se reúnem em multidão, o nível mental baixa muito.  Quanto maior a multidão, mais baixo o nível mental. Por isso é que os sábios têm tanto medo às multidões. 
- Senhora já nos contou aquele caso lá da Grécia - Lembra-se? 
- Sim, o caso do orador que estava fazendo um discurso para o povo. De repente rebentaram tremendos aplausos. O orador voltou-se para um amigo ao lado: "Será que eu disse alguma asneira?"

Fonte: Fábulas de Monteiro Lobato - Coleção educar. 

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Nicéas Romeo Zanchett 

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