Meteu-se um ono a falar numa roda de sábios e tais asneiras disse que foi corrido a pontapés.
- Que? - exclamou ele. Enxotam-me daqui? Negam-me talento? Pois hei de provar que sou um grande figurão e vocês não passam duns idiotas.
Enterrou o chapéu na cabeça e dirigiu-se à praça pública onde se apinhava copiosa multidão de beócios. Lá trepou em cima duma pipa e pôs-se a declamar. Disse asneiras como nunca, tolices de duas arrobas, besteiras de dar com um pau. Mas como gesticulava e berrava furiosamente, o povo em delírio o aplaudiu com palmas e vivas - e acabou carregando-o em triunfo.
- Viram? - resmungou ele ao passar ao pé dos sábios. Reconheceram a minha força? Responderam-me agora: que vale a opinião de vocês diante desta vitória popular?
Um dos sábios retrucou serenamente:
A opinião da qualidade despreza a opinião da quantidade.
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- Nada mais certo, meus filhos - disse Dona Benta. Logo que os homens se reúnem em multidão, o nível mental baixa muito. Quanto maior a multidão, mais baixo o nível mental. Por isso é que os sábios têm tanto medo às multidões.
- Senhora já nos contou aquele caso lá da Grécia - Lembra-se?
- Sim, o caso do orador que estava fazendo um discurso para o povo. De repente rebentaram tremendos aplausos. O orador voltou-se para um amigo ao lado: "Será que eu disse alguma asneira?"
Fonte: Fábulas de Monteiro Lobato - Coleção educar.
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Nicéas Romeo Zanchett
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