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domingo, 23 de dezembro de 2018

A RÃ SÁBIA - de Monteiro Lobato

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             Como a onça estivesse para casar-se, os animais todos andavam aos pulos, radiantes, com olho na festa prometida. Só uma velha rã sabidona torcia o nariz àquilo. 
              O marreco observou-lhe o trejeito e disse: 
              - Grande enjoada! Que cara feia é essa, quando todos nós pinoteamos alegres no antegozo do festão? 
              - Por motivo muito simples - respondeu a rã. Porque nós, como vivemos quietas, a filosofar, sabemos muito da vida e enxergamos mais longe do que vocês. Responda-me a isto: se o sol se casasse em vez de torrar o mundo sozinho o fizesse ajudado por dona Sol e por mais vários sóis filhotes? Que aconteceria? 
              - Secavam-se todas as águas, está claro. 
              - Isto mesmo. Secavam-se as águas e nós, rãs e peixes, levaríamos a breca. Pois calamidade semelhante vai cair sobre vocês. Casa-se a onça,  e já de começo será ela e mais o marido a perseguirem os animais. Depois aparecem as oncinhas - e os animais terão que aguentar com a fome de toda a família. Ora, se um só apetite já nos faz tanto mal, que será quando forem três, quatro e cinco? 
            O marreco refletiu e concordou: 
            - É isso mesmo... 
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Pior que um inimigo, dois; pior que dois, três... 



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Esta fábula nos mostra - disse Dona Benta, que quem só enxerga um palmo adiante do nariz está desgraçado. As criaturas verdadeiramente sábias olham longe. Antes de fazer uma coisa, refletem em todas as consequências futuras de seu ato. 
- Eu enxergo cem metros adiante do meu nariz! - gabou-se Emília. 
Narizinho fez um muxoxo. 
 - Gabola! Vovó já disse que louvor em boca própria é vitupério. 
- Mas é verdade! - insistiu Emília. Naquele caso da compra das fazendas para aumentar o Sítio do Pica-Pau Amarelo, quem viu mais longe? Dona Benta, disse pedrinho ou eu? Eu...
- Perfeitamente, não nego - disse a menina.  Mas o feio é andar se gabando. Espere que os outros te gabem. Posso dizer assim, vovó - "espere que os outros te gabem?" 
Dona Benta riu-se. 
Pode, minha filha, porque não há nenhuma gramática por perto...

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Fonte: Fábulas de Monteiro Lobato - Coleção Educar. 


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Nicéas Romeo Zanchett 

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