Dois viajantes, transviados no sertão, depois de muito andar alcançaram o reino dos macacos. Ai deles! Guardas surgem na fronteira, guardas ferozes que os prendem, que os amarram e os levam à presença de S. Majestade Simão III.
El-rei examina-os detidamente, com macacal curiosidade, e em seguida os interroga:
- Que tal acham isto por aqui?
Um viajante, diplomata de profissão, responde sem vacilar:
- Acho que este reino é a oitava maravilha do mundo. Sou viajadíssimo, já andei por Seca e Meca, mas, palavra de honra! nunca vi gente mais formosa, corte mais brilhante, nem rei de mais nobre porte do que Vossa majestade,
Simão lambeu-se todo de contentamento e disse para os guardas:
- Soltem-no e deem-lhe um palácio para morar e a mais gentil donzela para esposa. E levem incontinenti o decreto de sua nomeação para cavaleiro da mui augusta Ordem da banana de Ouro.
Assim se fez e, enquanto fazia, El-rei Simão, risonho ainda, dirigiu a palavra ao segundo viajante:
- E você? que acha do meu reino?
Este segundo viajante era um homem neurastênico, azedo, amigo da verdade a todo o transe. Tão amigo da verdade que replicou sem demora:
O que acho? É boa! Acho o que é!...
- E o que é? - interpelou simão, fechado o sobrecenho.
- Não é nada. Uma macacalha.. Macaco praqui, macaco prali, macaco no trono, macaco no pau...
- Pau nele - berra furioso o rei, gesticulando como um possesso. Pau de rachar nesse miserável caluniador...
E o viajante neurastênico, arrastado dali por cem munhecas, entrou numa roda de lenha que o deixou moído por uma semana.
Quem for amigo de verdade, use couraça ao lombo.
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- Também concordo - disse Pedrinho. A verdade a gente deve dizer com muitas cautelas e só nas ocasiões próprias. Aquela sova que o Quim da botica tomou outro dia, por que foi? Porque o bobo disse na cara do Coronel Teodoro o que toda gente pensa dele pelas costas. O bobo do Quim disse o que pensava e levou um "pé-de-ouvido" que o deixou surdo por três dias. É o que ainda acaba acontecendo para Emília. Vai dizendo as verdades mais duras na cara de toda a gente e um dia estrepa-se. Lembra-se, vovó, do que ela disse para D. Quixote, naquela vez em que o herói montou no Conselheiro por engano e ao perceber isso pôr-se a insultar o nosso burro? E se D. Quixote a espetasse com a lança?
- Emília sabe o que faz - observou Dona Benta. A esperteza chegou ali e parou. Ela sabia muito bem que o cavalheiro da Mancha era incapaz de ofender uma "dama" e por isso abusou...
Emília rebolou-se toda ao ouvir-se classificada de dama...
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Nicéas Romeo Zanchett.
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