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sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

A RAPOSA SEM RABO - De Monteiro Lobato

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              Certa raposa caiu numa armadilha. Debateu-se, gemeu, chorou e finalmente conseguiu fugir, embora deixando na ratoeira sua linda cauda. Pobre raposa! Andava agora trise, sorumbática, sem coragem de aparecer diante das outras, com receio da vaia. 
               Mas de tanto pensar no seu caso teve a ideia de convocar o povo raposeiro para uma grande reunião. 
               - Assunto gravíssimo! - explicou ela. Assunto que interessa a todos os animais. 
               Reuniram-se as raposas e a derrabada, tomando a palavra, disse: 
               - Amigas, respondam-me por obséquio: que serventia tem para nós a cauda? Bonita não é, útil não é, honrosa não é... Por que, então, continuarmos a trazer este grotesco apêndice às costas? Fora com ele! Derrabemo-nos todas e fiquemos graciosas como as preás. 
               As ouvintes estranharam aquelas ideias e, matreiras como são, suspeitaram qualquer coisa. Ergueram-se do seu lugar e, dirigindo-se à oradora, pediram: 
               - Muito bem. Mas cortaremos primeiro a sua. Vire-se para cá, faça o favor... 
               A pobre raposa, desapontada, teve de obedecer à intimação. Voltou de costas. 
               Foi uma gargalhada geral. 
               - Está explicado o empenho dela em nos fazer mais bonitas. Fora! Fora com a derrabada!...
               E correram-na dali. 

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- Isso é bem certo - disse Dona Benta. Se uma pessoa que tem um defeito conseguisse que o mundo inteiro também tivesse o mesmo defeito, que acontecia, Pedrinho? 
- Acontecia que quem não tivesse o tal defeito é que era o defeituoso. 
- Exatamente. Há certos lugares aí pelo sertão em que todos os moradores ficam com uns enormes papos. Um dia um viajante encontrou na casa duma família de papudos e viu na parede o retrato de um moço sem papo. "Quem é ele?" - perguntou. É a dona da casa respondeu: "Ah esse é meu filho Totonho, no tempo em que era defeituoso". "E agora não é mais?" -  perguntou o viajante. "Felizmente sarou". - respondeu a papuda. "Está já com o pescoço bem cheio, como o meu" - e alisou com a mão aquela papeira lustrosa...

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Fonte: Fábulas de Monteiro Lobato - Coleção educar. 

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Nicéas Romeo Zanchett 

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