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domingo, 16 de dezembro de 2018

A CIGARRA E AS FORMIGAS de Monteiro Lobato - a Formiga má.

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A FORMIGA MÁ 
               Já houve, entretanto, uma formiga má que não soube compreender a cigarra e com dureza a repeliu de sua porta. 
                 Foi isso na Europa, em pleno inverno, quando a neve recobria o mundo com o seu cruel manto de gelo. 
              A cigarra, como de costume, havia cantado sem parar o estio inteiro, e o inverno veio encontrá-la desprovida de tudo, sem casa onde abrigar-se, nem folhinha que comesse. 
                Desesperada, bateu à porta da formiga e implorou - emprestado, notem! - uns miseráveis restos de comida. Pagaria com juros altos aquela comida de empréstimo, logo que o tempo o permitisse. 
               Mas a formiga era uma usurária sem entranhas. Além disso, invejosa. Como não soubesse cantar, tinha ódio à cigarra por vê-la querida de todos os seres. 
               - Que fazia você durante o bom tempo?
               - Eu... eu cantava!...
               - Cantava? Pois dance agora, vagabunda! - e fechou-lhe a porta no nariz.
               Resultado: a cigarra ali morreu entanguidinha; e quando voltou a primavera o mundo apresentava um aspecto mais triste. É que faltava na música do mundo o som estridente daquela cigarra morta por causa da avareza da formiga. Mas se a usurária morresse, quem daria pela falta dela? 

Os artista - poetas, pintores, músicos - são as cigarras da humanidade. 

- Esta fábula está errada - gritou Narizinho. Vovó nos leu aquele livro do Maeterlinck sobre a vida das formigas - e lá a gente vê que as formigas são os únicos insetos caridoso que existem. Formiga má como essa nunca houve. 
Dona Benta explicou que as fábulas não eram lições de História Natural, mas de Moral.
- E tanto é assim - disse ele - que nas fábulas os animais falam e na realidade eles não falam. 
- Isso não! - protestou Emília. Não há animalzinho, bicho, formiga ou pulga, que não fale. Nós é que não entendemos as linguinhas deles. 
Dona Benta aceitou a objeção e disse: - Sim, mas nas fábulas os animais falam a nossa língua e na realidade só falam as línguas deles. Está satisfeita? 
- Agora sim! - disse Emília muito ganjenta com o triunfo. Conte outra. 

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Fonte: Fábulas de Monteiro Lobato - Coleção Educar.

Nicéas Romeo Zanchett 


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