Certo ratinho da cidade resolveu banquetear com um compadre que morava no mato. E convidou-o para o festim, marcando lugar e hora.
Veio o rato da roça, e logo de entrada muito se admirou do luxo de seu amigo.
A mesa era um tapete oriental, e os manjares eram coisa papa-fina: queijo do reino, presunto, pão-de-lo, mãe-benta. Tudo isso dentro dum salão cheio de quadros, estatuetas e grandes espelhos de moldura dourada. Puseram-se a comer.
No melhor da festa, porém, ouviu-se um rumor na porta. Incontinente o rato da cidade fugiu para o seu buraco, deixando o convidado de boca aberta.
Não era nada, e o rato fujão logo voltou e prosseguiu no jantar. Mas ressabiado, de orelha em pé, atento aos mínimos rumores da casa.
Daí a pouco, novo barulhinho na porta e nova fugida do ratinho.
O compadre da roça franziu o nariz.
- Sabe do que mais? Vou-me embora. Isto aqui é muito bonito, mas não me serve. Muito melhor roer o meu grão de milho no sossego da minha toca do que me fartar de gulodices caras com o coração aos pinotes. Até logo.
E foi-se.
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- Está certo! disse tia Nastácia que havia entrado e parado para ouvir. Nunca me hei de esquecer do que passei lá na Lua quando estive cozinhando para São Jorge e ouvia os urros daquele dragão. Meu coração pulava no peito. Só sosseguei quando me vi outra vez aqui no meu cantinho...
Fonte: Fábulas de Monteiro Lobato - Coleção Educar.
Nicéas Romeo Zanchett
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