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segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

O JULGAMENTO DA OVELHA - de Monteiro Lobato

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             Um cachorro de maus bofes acusou uma pobre ovelhinha de lhe haver furtado um osso. 
              - Para que furtaria eu esse osso - alegou ela - se sou herbívora e um osso para mim vale tanto quanto um pedaço de pau? 
             - Não quero saber de nada. Você furtou o osso e vou já levá-la aos tribunais. 
             E assim fez. 
              Queixou-se ao gavião penacho e pediu-lhe justiça. O gavião reuniu o tribunal para julgar a causa, sorteando para isso doze urubus de papo vazio. 
              Comparece a ovelha. Fala. Defende-se de forma cabal, com razões muito irmãs das do cordeirinho que o lobo em tempos comeu.
              Mas o juri, composto de carnívoros gulosos, não quios saber de nada e deu a sentença: 
              - Ou entrega o osso já e já, ou condenamos você à morte!
              A ré tremeu: não havia escapatória!...  Ossa não tinha e não podia, portanto, restituir; mas tinha a vida e ia entregá-la em pagamento do que não furtara. 
              Assim aconteceu. O cachorro sangrou-a, espostejou-a, reservou para si um quarto e dividiu o restante com os juízes famintos, a título de custas... 

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Fiar-se na justiça dos poderosos que tolice!... A justiça deles não vacila em tomar  do branco e solenemente decretar que é preto. 


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- Esta fábula - disse Dona benta - é muito dolorosa. É um verdadeiro retrato da justiça humana; e se fosse explicar a lição que existe aqui, levaria um ano. Não vale a pena. Vocês vão viver, vão crescer, vão conhecer os homens - e irão percebendo a profunda e triste verdade desta fabulazinha...
- Que quer dizer "maus bofes", vovó? 
- Quer dizer de má índole, de maus sentimentos, e foi por ser assim que o cachorro acusou a pobre ovelha. 
- E os urubus juízes também, eram de mais bofes? 
- Não. esses eram apenas maus juízes, dos que julgam de acordo com certos interesses, em vez de julgar de acordo com a justiça. 
- Que interesse tinham eles no caso? 
- Estavam com fome e queriam comer a ovelha. 
Emília protestou.  - Acho que nesse ponto a fábula não tinha "propriedade gastronômica".
- Por que? 
- Porque urubu não come carne fresca, só come carne podre... 
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Fonte: Fábulas de Monteiro Lobato - Coleção Educar. 
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Nicéas Romeo Zanchett 

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