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sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

AS AVES DE RAPINA E OS POMBOS

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               A guerra dos rapinantes - quando isto foi? Há séculos. Há mil anos. Mas foi guerra tão terrível que até hoje se fala nela. 
               Brigaram as aves de rapina - águias, abutres, gaviões, milhafres, por causa de um veadinho novo. E separaram-se em campos contrários, rompidos em guerra franca. Durante meses o azul do céu virou arena de luta. Ora duelos singulares; ora ataques de bandido contra outro; ora um grupo que agredia um inimigo escoteiro. 
               E adeus, paz do azul! Volta e meia era um corpo que caia, espedaçado a unhaços; ou penas que desciam em aspirais, ou gotas de sangue a pingar. 
               As aves pacíficas da terra, assustadas com aqueles horrores, deliberaram intervir. E escolheram como mensageiro a pomba. 
               - Vá você que é a sinaleira da paz, e reduza à razão aqueles loucos furiosos. 
               A pombinha foi conferenciar com os chefes, e com tanta eloquência falou que eles a ouviram e assinaram um tratado, comprometendo-se a nunca mais se devorarem uns aos outros. 
               Mas o que depois disso sucedeu degenerou em calamidade para os apaziguadores. Harmonizados entre si, os rapinantes pouparam-se uns ao outros, mas deram de empregar toda a força dos bicos e todo o fio das unhas contra as pobres pombas. E foi uma chacina sem tréguas que dura até hoje e durará eternamente. 
               E as pombinhas entraram a murmurar, num queixume triste: 
               - Que tolice a nossa, de restabelecera harmonia entre os rapinantes! A boa política mandava fazer justamente o contrário - dividi-los ainda mais... 


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- Houve mesmo essa guerra, Dona Benta? - perguntou tia Nastácia, que vinha entrando com um prato de pés-de-moleque ainda quentinhos. Judiação, as malvadas matarem as pombinhas... 
Emília pôs as mãos na cintura. 
- Que graça, esta assassina achar judiação, águia matar pombas! Quem é que ontem torceu o pescoço do frango carijó? Quem é que a semana passada matou aquele leitãozinho? Quem é que... 
- Pare Emília! - disse Dona Benta. Você está se afastando muito da fábula. Quero saber qual a moralidade do caso das aves de rapina e as pombas. 
- Pedrinho gritou: 
- Eu sei, vovó! Dividir é enfraquecer - não é isso mesmo?
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Fonte : Fábulas de Monteiro Lobato - Coleção Educar. 
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Nicéas Romeo Zanchett 

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