A guerra dos rapinantes - quando isto foi? Há séculos. Há mil anos. Mas foi guerra tão terrível que até hoje se fala nela.
Brigaram as aves de rapina - águias, abutres, gaviões, milhafres, por causa de um veadinho novo. E separaram-se em campos contrários, rompidos em guerra franca. Durante meses o azul do céu virou arena de luta. Ora duelos singulares; ora ataques de bandido contra outro; ora um grupo que agredia um inimigo escoteiro.
E adeus, paz do azul! Volta e meia era um corpo que caia, espedaçado a unhaços; ou penas que desciam em aspirais, ou gotas de sangue a pingar.
As aves pacíficas da terra, assustadas com aqueles horrores, deliberaram intervir. E escolheram como mensageiro a pomba.
- Vá você que é a sinaleira da paz, e reduza à razão aqueles loucos furiosos.
A pombinha foi conferenciar com os chefes, e com tanta eloquência falou que eles a ouviram e assinaram um tratado, comprometendo-se a nunca mais se devorarem uns aos outros.
Mas o que depois disso sucedeu degenerou em calamidade para os apaziguadores. Harmonizados entre si, os rapinantes pouparam-se uns ao outros, mas deram de empregar toda a força dos bicos e todo o fio das unhas contra as pobres pombas. E foi uma chacina sem tréguas que dura até hoje e durará eternamente.
E as pombinhas entraram a murmurar, num queixume triste:
- Que tolice a nossa, de restabelecera harmonia entre os rapinantes! A boa política mandava fazer justamente o contrário - dividi-los ainda mais...
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- Houve mesmo essa guerra, Dona Benta? - perguntou tia Nastácia, que vinha entrando com um prato de pés-de-moleque ainda quentinhos. Judiação, as malvadas matarem as pombinhas...
Emília pôs as mãos na cintura.
- Que graça, esta assassina achar judiação, águia matar pombas! Quem é que ontem torceu o pescoço do frango carijó? Quem é que a semana passada matou aquele leitãozinho? Quem é que...
- Pare Emília! - disse Dona Benta. Você está se afastando muito da fábula. Quero saber qual a moralidade do caso das aves de rapina e as pombas.
- Pedrinho gritou:
- Eu sei, vovó! Dividir é enfraquecer - não é isso mesmo?
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Fonte : Fábulas de Monteiro Lobato - Coleção Educar.
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Nicéas Romeo Zanchett
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