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domingo, 16 de dezembro de 2018

A RÃ E O BOI - de Monteiro Lobato -

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              Tomavam sol à beira dum brejo uma rã e uma saracura. Nisto chegou um boi, que vinha para o bebedouro. 
                  - Quer ver, disse a rã, como fico do tamanho deste animal? 
                  - Impossível, rãzinha. Cada qual como Deus o fez. 
                  - Pois olhe lá! - retorquiu a rã estufando-se toda. Não estou "quase" igual a ele? 
                  - Capaz! falta muito, amiga. 
                 A rã estufou-se mais um bocado. 
                 - E agora? 
                 - Longe ainda!
                 A rã fez novo esforço. 
                 - E agora? 
                 - Que esperança!...
                 A rã, concentrando todas as forças, engoliu mais ar e foi-se estufando, estufando, até que, plaf! rebentou com um balãozinho de elástico. 
                  O boi, que tinha acabado de beber, lançou um olhar de filósofo sobre a rã moribunda e disse: 
                 - Quem nasce para dez réis não chega a vintém. 

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- Não concordo! - berrou Emília. Eu nasci boneca de pano, muda e feia, e hoje sou até ex-Marquesa. Subi muito. Cheguei a muito mais que vintém. Cheguei a tostão...
 - Isso não impede que a fábula esteja certa, Emília, porque os fabulistas escrevem as fábulas para as crianças humanas e não para criaturas inumanas como você. Você é "gentinha", não é bem gente.
Emília fez um muxoxo de pouco caso.
- E "passo" isso de ser gente humana! maior sem-gracismo não conheço... 
- Cuidado, Emília! - disse Narizinho. De repente você estufa demais e acontece como no caso da rã... E sabe o que sai de dentro de você, se arrebentar?
- Estrelas - berrou Emília.
- Sai um chuveiro de asneirinhas...
Emília pôs-lhe a língua.

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Fonte : Fábulas de Monteiro Lobato - Coleção Educar. 
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Nicéas Romeo Zanchett
  

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