O leão muito velho e já caduco andava morre não morre.
Mas, apegado à vida e sempre esperando, deu ordem aos animais para que o visitassem e lhe ensinassem remédios.
Assim aconteceu. A bicharada inteira desfilou diante dele, cada qual com um remédio ou um conselho.
Mas a raposa? Por que não vinha?
- Eu sei - disse um lobo intrigante, inimigo pessoal da raposa. Ela é uma finória, acha que Vossa Majestade morre logo e é bobagem andar a perder tempo com cacos de vida.
Enfureceu-se o leão e mandou buscar a raposa debaixo de vara.
- Então é assim que me trata, ó vilíssimo animal? Esquece que eu sou o rei da floresta?
- Perdão, Majestade! Se não vim até agora é que andava em peregrinação pelos oráculos, consultando-os a respeito da doença que abate o ânimo do meu querido rei. E não perdi a viagem, visto como trago a única receita capaz de produzir melhoras na real saúde de Vossa Majestade.
- Diga lá o que é - ordenou o leão, já calmo.
- É combater a frialdade que entorpece os vossos membros com um "capote de lobo."
- Que é isso?
- Capote de lobo é uma pele ainda quente de lobo escorchado na horinha. E como está aqui mestre lobo, súdito fiel de Vossa Majestade, vai ele sentir um prazer imenso em emprestar a pele ao seu real senhor.
O leão gostou da receito, escorchou o lobo, embrulhou-se na pele fumegante e ainda por cima lhe comeu a carne.
A raposa, vingada, retirou-se, murmurando:
- Toma! Para intrigante, intrigante e meio.
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- Bem feito! - exclamou Emília. Essa raposa merece um doce. E com certeza o tal lobo era aquele que comeu a avó de Capinha Vermelha.
- Boba! Aquele foi morto a machadadas pelo lenhador - disse Narizinho.
- Eu sei - tornou Emília - mas nas histórias a matança nunca é completa. Nunca o morto fica bem matado - e volta a si outra vez. Você bem viu no caso do Capitão Gancho. Quantas vezes Peter Pan deu cabo dele? E o Capitão Gancho continua cada vez mais gordo e ganchudo.
- Por que é, vovó, que em todas as histórias a raposa sai sempre ganhando? - quis saber Pedrino.
- Porque a raposa é realente astuta. Sabe defender-se, sabe enganar os inimigos. Por isso, quando um homem quer dizer que o outro é muito hábil em manhas, diz: "Fulano de Tal é uma verdadeira raposa!" Aqui nesta fábula você viu com que arte ela virou contra o lobo o perigo que a ameaçava. Ninguém pode com os astutos.
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Fonte: Fábulas de Monteiro Lobato - Coleção Educar.
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Nicéas Romeo Zanchett
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