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sábado, 29 de dezembro de 2018

O LEÃO O LOBO E A RAPOSA de Monteiro Lobato

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                O leão muito velho e já caduco andava morre não morre. 
                 Mas, apegado à vida e sempre esperando, deu ordem aos animais para que o visitassem e lhe ensinassem remédios. 
                 Assim aconteceu. A bicharada inteira desfilou diante dele, cada qual com um remédio ou um conselho. 
                 Mas a raposa? Por que não vinha? 
                 - Eu sei - disse um lobo intrigante, inimigo pessoal da raposa. Ela é uma finória, acha que Vossa Majestade morre logo e é bobagem andar a perder tempo com cacos de vida. 
                 Enfureceu-se o leão e mandou buscar a raposa debaixo de vara.
                 - Então é assim que me trata, ó vilíssimo animal? Esquece que eu sou o rei da floresta? 
                 - Perdão, Majestade! Se não vim até agora é que andava em peregrinação pelos oráculos, consultando-os a respeito da doença que abate o ânimo do meu querido rei. E não perdi a viagem, visto como trago a única receita capaz de produzir melhoras na real saúde de Vossa Majestade. 
                 - Diga lá o que é - ordenou o leão, já calmo. 
                 - É combater a frialdade que entorpece os vossos membros com um "capote de lobo."
                 - Que é isso? 
                 - Capote de lobo é uma pele ainda quente de lobo escorchado na horinha. E como está aqui mestre lobo, súdito fiel de Vossa Majestade, vai ele sentir um prazer imenso em emprestar a pele ao seu real senhor. 
                 O leão gostou da receito, escorchou o lobo, embrulhou-se na pele fumegante e ainda por cima lhe comeu a carne.
                 A raposa, vingada, retirou-se, murmurando: 
                 - Toma! Para intrigante, intrigante e meio. 

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- Bem feito! - exclamou Emília. Essa raposa merece um doce. E com certeza o tal lobo era aquele que comeu a avó de Capinha Vermelha. 
- Boba! Aquele foi morto a machadadas pelo lenhador - disse Narizinho. 
- Eu sei - tornou Emília - mas nas histórias a matança nunca é completa. Nunca o morto fica bem matado - e volta a si outra vez. Você bem viu no caso do Capitão Gancho. Quantas vezes Peter Pan deu cabo dele? E o Capitão Gancho continua cada vez mais gordo e ganchudo. 
- Por que é, vovó, que em todas as histórias a raposa sai sempre ganhando? - quis saber Pedrino.
- Porque a raposa é realente astuta. Sabe defender-se, sabe enganar os inimigos. Por isso, quando um homem quer dizer que o outro é muito hábil em manhas, diz: "Fulano de Tal é uma verdadeira raposa!" Aqui nesta fábula você viu com que arte ela virou contra o lobo o perigo que a ameaçava. Ninguém pode com os astutos. 
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Fonte: Fábulas de Monteiro Lobato - Coleção Educar.
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Nicéas Romeo Zanchett 

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