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domingo, 16 de dezembro de 2018

A CORUJA E A ÁGUIA - de Monteiro Lobato



                Coruja e águia, depois de muita biga, resolveram fazer as pazes.
                - Basta de guerra - disse a coruja.  O mundo é tão grande, e tolice maior que o mundo é andarmos a comer os filhotes uma da outra. 
                - Perfeitamente - respondeu a águia. 
                - Também eu não quero outra coisa. 
                - Nesse caso combinemos isto: de ora em diante não comerás nunca os meus filhotes.
                - Muito bem. Mas como posso distinguir os teus filhotes? 
                - Coisa fácil. Sempre que encontrares uns borrachos lindos, bem feitinhos de corpo, alegres, cheios de uma graça especial que existe em filhote de nenhuma outra ave, já sabes, são os meus. 
                - Está feito! - concluiu a águia.
              Dias depois, andando à caça, a águia encontrou um ninho com três monstrengos dentro, que piavam de bico muito aberto. 
                - Horríveis bichos! disse ela. Vê-se logo que não são os filhos da coruja. 
                E comeu-os. 
                Mas eram os filhos da coruja. Ao regressar à toca a triste mãe chorou amargamente o desastre e foi justar contas com a rainha das aves. 
                - Que? disse esta, admirada. Eram teus filhotes aqueles mostrenguinhos? Pois,olha, não se pareciam nada com o retrato que deles me fizeste...


Para retrato de filho ninguém acredite em pintor pai. Lá diz o ditado: quem o feia ama, bonito lhe parece. 
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- Para mim, vovó - comentou Narizinho - esta é a rainha das fábulas. Nada mais verdadeiro. Para os pais  os filhos são sempre uma beleza, nem que sejam feios como os filhos da coruja. 
- E esta fábula se aplica a muita coisa, minha filha. Aplica-se a tudo que é produto nosso. Os escritores acham ótimas todas as coisas que escrevem, por piores que sejam. Quando um pintor pinta um quadro, para ele o quadro é sempre bonitinho. Tudo quanto nós fazemos é "filho de coruja."
- Mostrengo ou monstrengo, vovó? - quis saber Pedrinho. Vejo essa palavra escrita de dois jeitos. 
- Os gramáticos querem que seja mostrengo - coisa de mostrar; mas o povo acha melhor monstrengo -coisa monstruosa, e vai mudando. Por mais que os gramáticos insistam na forma "mostrengo", o povo diz "monstrengo."
- E quem vai ganhar esta corrida, vovó? 
- Está claro que o povo, meu filho. Os gramáticos acabarão se cansando de insistir no "mostrengo" e se resignarão ao "monstrengo". 
- Pois eu vou adotar o "monstrengo" - resolveu Pedrinho. Acho mais expressivo. 

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