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domingo, 30 de dezembro de 2018

O CARREIRO E O PAPAGAIO - De Monteiro Lobato

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             Vinha um carreiro à frente dos bois, cantarolando pela estrada sem fim. Estrada de lama. 
              Em certo ponto o carro atolou.
              O pobre homem aguilhoa os bois, dá pancadas, grita; nada consegue e põe-se a lamentar a sorte. 
              - Desgraçado que sou! Que fazer agora, sozinho neste deserto? Se ao menos São Benedito tivesse dó de mim e me ajudasse...
              Um papagaio escondido entre as folhas condoeu-se dele e, imitando a voz de santo, começou a falar: 
              Os céus te ouviram, amigo, e Benedito em pessoa aqui está para o ajutório que pedes. 
              O carreiro, num assombro, exclama: 
              - Obrigado, meu santo! Mas onde estás que não te vejo? 
              Ao teu lado. Não me vês porque sou invisível. Mas, vamos, faze o que mando.  Toma da enxada e cava aqui. Isso. Agora a mesma coisa do outro lado. Isso. Agora vais cortar uns ramos e estivar o sulco aberto. Isso. Agora vais aguilhoar os bois. 
              O carreiro fez tudo como o papagaio mandou e com grande alegria viu desatolar-se o carro. 
               Obrigado, meu santo! - exclamou ele de mão postas. Nunca me hei de esquecer do grande socorro prestado, pois que sem ele eu ficaria aqui toda a vida. 
                O papagaio achou muita graça na ingenuidade do homem e papagueou, como despedida, um velho rifão popular: 


Ajuda-te que o céu te ajudará.


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- Como são sabidinhos esse bichos das fábulas! Este papagaio, então, está um suco! 
- Suco de que, minha filha? - perguntou Dona benta. 
- De sabedoria, vovó! O meio da gente se sair duma dificuldade é sempre esse - lutar, lutar...
 - Eu sei de outro muito melhor - disse Emília. Dez vezes melhor...
A menina admirou-se. 
- Qual é, Emília? 
- É quando todos estão desesperados e tontos, sem saber o que fazer, voltaram-se para mim e: "Emília, acuda!" e eu vou e aplico o faz-de-conta e resolvo o problema. Aqui nesta casa ninguém luta para resolver as dificuldades; todos apelam para mim. 
- E você manda o Visconde. Sem o faz-de-conta e o Visconde ela não se arranja. 
- Mas o caso é que os problemas se resolvem. É ou não? 
Narizinho teve que concordar com ela. 
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Fonte: Fábulas de Monteiro Lobato - Coleção Educar. 

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Nicéas Romeo Zanchett 

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